Fragmento da percepção de uma rotina.
As ruas movimentadas morrem com a chegada da noite, o deserto urbano é a paisagem da madrugada, centros mortos e periferias quietas, sem as vozes das mulheres que conversam e cantam e as crianças que gritam e correm, pedestres morrem com o barulho dos motores e buzinas. Uma bicicleta com duas pessoas desce a ladeira e atravessa a ponte que divide o bairro e a favela, crianças empinam pipas no fim do outono junino e cantam uma música de rádio, gritando e xingando esperam as férias escolares. A quermesse das noites anteriores parecia um inferno, com centenas de pessoas e jovens histéricos, carros e motos explodindo e aparelhos de som no limite da potência, com o som comercial distorcido e mal reproduzido, se é que possa ser bem reproduzido, se nem bem produzido foi, fabricado nos computadores que tentam deixá-lo o mais audível possível.
Tudo bem, o fato é que tudo era tão absurdo e diferente de quando era um arraial com danças típicas e ambiente mais familiar, a banalização da religião, homossexuais na igreja, tudo passa pois a paróquia está faturando, todos estão faturando, ambição e ignorância, drogas falsas, lixo industrializado, sou podre porque tudo é podre, a podridão da raça açoitada, o brasileiro herói sem caráter, Macunaíma explorado, enganado por quem o domina. Honestidade nenhuma, fingimos o tempo todo, sempre com o cheiro do lodo e o que eu não mordo eu fodo. Pirataria digital, tráfico de drogas de mentira, crimes reais com penas aliviadas, acordos mal feitos e bem pagos, legados da história brasileira e sua sociedade corrupta, a política se corrompe e a sociedade também.
Aos dias ensolarados sem sol, apenas pelo meu amor.
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